quarta-feira, 22 de agosto de 2012

O Barco.



Margens inertes
abrem os seus braços
Um grande barco no silêncio parte.
Altas gaivotas nos ângulos a pique,
Recém-nascidas à luz, perfeita a morte.
Um grande
barco parte abandonado
As colunas de um cais ausente e branco.
E o seu rosto busca-me emergindo
Do corpo sem cabeça da cidade
Um grande
barco desligado parte
Esculpindo de frente o vento norte.
Perfeito azul do mar, perfeita a morte
Formas clara e nítidas de espanto.

Sophia de Mello Breyner Andresen


Sem comentários:

Enviar um comentário