segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Saudade.


A poesia de Corrêa d´Oliveira é assim como esta imagem, uma pausa de silêncio e meditação. Cheia de uma luz como só aqui, doce e tão bela, que ilumina de uma maneira misteriosa esta terra de ventos temperamentais e indomáveis.

"O que sou eu? - O Perfume,
Dizem os homens. - Serei
Mas o que sou nem eu sei...
Sou uma sombra de lume!
Rasgo a aragem como um gume
De espada: Subi. Voei.
Onde passava, deixei
A essência que me resume.
Liberdade, eu me cativo:
Numa renda, um nada, eu vivo
Vida de sonho e verdade!
Passam os dias, e em vão!
- Eu sou a Recordação;
Sou mais, ainda: a Saudade"

António Corrêa d´ Oliveira
In Cem Poemas Portugueses do Adeus e da Saudade

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

D´El Rei.

Imagem daqui.


"Que desgostos trazia [D. Sebastião], que a morte lhe pareceu afável e desejável? Quando o povo o esperava, vindo do nevoeiro, é porque recordava qualquer coisa de invulnerável que ele tinha por virtude própria. Era como sir Lancelot , a quem o amor poupava e por isso também o respeitava a morte. Fruto verde e perdido, menino sem mãe nem pai! De Esposende se avista, se quisemos, o seu barco negro, que espera subir o rio como um bergantim funerário, um dia. Em certas tardes paradas de Inverno, além das dunas de Fão, uma vela corre, e, se cuidarmos ir retomá-la na barra - não a veremos mais. O mugido da sereia cobre o estalido da água"

"Memória de Esposende", in Alegria do Mundo, vol. II